O que realmente está acontecendo em Israel?
Jerusalém sempre foi e sempre será um dos temas mais difíceis de resolver no conflito Israel/Palestina. Difícil não somente por sua complexidade urbana, onde judeus e árabes moram lado a lado, mas por ser um tema a qual a razão às vezes não se sobrepõe a emoção.
Antes da guerra dos seis dias, em 1967, Israel não possuía acesso à cidade velha de Jerusalém sobre comando militar da Jordânia desde o fim da guerra de independência em 1949. A Jordânia jamais deu status aos palestinos como donos da cidade velha, muito menos a esplanada das mesquitas, o terceiro lugar mais sagrado ao islã. Judeus eram proibidos de se aproximar da cidade velha e o Muro das Lamentações era um grande lixão municipal criado pelo governo jordaniano.
Após Israel conquistar, em uma guerra defensiva, todo território ocupado pela Jordânia, decidiu-se então que na esplanada das mesquitas haveria uma autoridade máxima religiosa comandada pelos jordanianos, a chamada Waqf. Ficou decidido assim, o “status Quo” na explanada das mesquitas. Vele lembrar que Israel protege todos os lugares sagrados e da livre acesso de culto a todas as religiões, algo que não acontecia quando a Jordânia dominava a cidade.
De acordo com uma leis religiosas do rabinato central em Israel, é proibido a um judeu visitar a explanada das mesquitas ou monte do templo (lugar onde esteve o primeiro e segundo templo, lugar mais sagrado aos judeus). Em algum lugar desta explanada ficava o “Kodesh Hakodashim”( Santo dos santos, onde acredita-se que estavam as tábuas da lei dentro da arca sagrada) onde somente um Cohen entrava em Yom Kippur (dia do perdão). O Kodesh Hakodashim ficava na parte interna do Templo. O segundo templo foi destruído pelos romanos em 70 DC. O Domo da Rocha, o templo muçulmano com a famosa cúpula de ouro, foi construído acredita-se aproximadamente no mesmo lugar onde se encontrava o segundo templo judaico. Porém, algumas novas interpretações religiosas de grupos específicos permitem e incentivam a subida de judeus a essa explanada. Judeus eram, e continuam sendo, proibidos pela polícia de Israel de rezar na explanada uma vez que a sensibilidade deste local pode criar fúrias religiosas. Hoje em dia, não são todos os judeus religiosos que visitam ou incentivam a vista ao monte do templo. Há em Israel diversas vertentes religiosas e muitas dessas vertentes consideram religiosamente proibido a subida de judeus na explanada das mesquitas.
Nos últimos meses, uma suposta infração israelense ao Status Quo tem feito com que grupos islâmicos radicais nos territórios palestinos e em Israel, começassem a passar informações em massa de uma suposta vontade e intenção israelense de mudar o Status e consequentemente colocar em perigo a “soberania da explanada”. Neste requisito temos dois pontos importantes: O primeiro é o fato de que o governo de Israel não tem intenção nenhuma de mudar o Status Quo, porém há de fato um grupo de religiosos judeus que sim tentam rezar, mesmo que seja ilegal, dentro da explanada. O segundo fato é a incitação à violência feita por grupos radicais islâmicos. No ano passado foi clarificado a existência de um grupo de mulheres palestinas que eram pagas pelo Hamas por hora, para ficarem de “guarda” na explanada das mesquitas e gritarem “Deus é grande” (Alah Uakbar) toda vez que um grupo de judeus visita a explanada, mesmo sem rezar. Hoje em dia esse grupo é de mulheres, jovens e até homens que as centenas, ficam dentro da mesquita Al Aqsa, apenas esperando ordens de se rebelarem contra visitantes, jogando pedras ou rojões fazendo com que a policia entre na esplanada para contê-los, aumentando assim a violência e as tensões.
Tudo isso se tornou uma bola de neve. Grupos radicais palestinos se fortalecem com a falta de informação dentro dos territórios palestinos, incitam a violência e até fazem vídeos de como matar judeus. Muitos cidadãos árabes israelenses e palestinos de Jerusalém oriental ou da Cisjordânia, convencidos de que a explanada está em perigo, se tornam “lobos solitários” ou terroristas de primeira viagem. Lobos solitários são terroristas que decidem se tornar-se um da noite para o dia, não possuem antecedentes criminais e cometem um ato terrorista sem o mando ou comando de um grupo.Não podemos de maneira nenhuma esquecer o assassinato da família palestina em Duma na Cisjordânia, aparentemente cometido por colonos judeus radicais e o fato importantíssimo de que ninguém ainda foi preso.
O que vemos hoje em Israel é uma tentativa falha do governo de Israel de conter a violência tanto palestina quanto judaica e querer sobreviver politicamente. Ao mesmo tempo temos uma autoridade palestina completamente apática ao assassinato de civis israelenses por terroristas palestinos, mesmo que feitos pelo Hamas, curiosamente para também sobreviver politicamente. O próprio partido FATAH tem ligações com grupos extremamente violentos que em parte são responsáveis pela incitação à violência.
Israel está, hoje em dia, sofrendo uma onda de terrorismo que muitos associam ou não a uma Intifada (levante popular palestino contra ocupação israelense). Não é organizada e preparada por lideranças palestinas ou pela autoridade palestina, é mais espontâneo e com vários focos. Para sairmos desta situação de terrorismo diário, de esfaqueamentos e protestos violentos, apenas uma medida que não foi tomada ainda poderá mudar o cenário atual e diminuir a bola de neve ao invés de aumentar. Essa medida não deve ser feita somente por Israel ou somente pela liderança moderada palestina e sim pelos dois em coordenação. Mesmo que o processo de paz continue parado devido a inúmeros fatos, os líderes palestinos precisam explicar aos seus cidadãos que terrorismo é um beco sem saída, um caminho sem volta e não trará a eles uma independência a explanada ou a qualquer outro território clamado para ser um Estado Palestino. Os líderes israelenses, inclusive os religiosos, precisam incentivar seus seguidores que em momentos como esse, a calma e descrição devem ser mantidos e para tal, visitas a explanada das mesquitas deveriam ser evitadas.
Dizem em relações internacionais que a guerra é a continuação da política através da força. Faz 20 anos que Israel e os Palestinos se auto reconheceram. Faz 20 anos que o Hamas e outros grupos radicais ficam cada vez mais fortes. A sobrevivência política deveria ficar em segundo plano e em primeiro plano deveria estar a sobrevivência de uma paz justa e uma mão firme contra aqueles que realmente são inimigos desta paz. Para isso o terrorismo palestino, seja o fomentado pelo Hamas ou por outros grupos ou o individual, deve ser condenado por lideranças Palestinas e Árabe Israelenses e não incentivado. Do lado Israelense apenas quando o Likud de 2015 voltar a ser o Likud de 1979 (ano da paz com Egito), este partido politico, atualmente no poder, estará pronto a falar em acordos de paz.
O grande então Primeiro Ministro Ytzhak Rabin dizia no auge da primeira intifada, durante o processo de paz de Oslo em 1994 : “Devemos lidar com o terrorismo como se não houvesse o processo de paz, e lidar com o processo de paz como se não houvesse o terrorismo”.